quinta-feira, 5 de abril de 2012

Medalhista olímpico do boxe, Servílio estuda direito e espera homenagem


Servílio de Oliveira, único medalhista olímpico do do boxe brasileiro – foi bronze da categoria mosca, de 51 kg -, agora aos 63 anos está estudando direito, uma das suas paixões que só teve oportunidade de ir de encontro há pouco tempo.
– Entrei em 2009 e já estou no terceiro ano da USCS [Universidade Municipal de São Caetano do Sul]. Tenho alguma dificuldade – o tempo passa vou fazer “meia-quatro” em maio… -, mas estou aprendendo. Gosto muito!
A medalha de Servílio é da Olimpíada da Cidade do México 1968.
- É a única do boxe e estou esperando que alguém conquiste mais uma! Vamos ver agora em Londres. Os atletas têm apoio, o dinheiro está rolando. Mas ainda acho que o dinheiro público é mal encaminhado.
Bronze já tem 44 anos
Para Servílio, as verbas que saem “do governo para o COB [Comitê Olímpico Brasileiro], do COB para as Confederações, não vão para a formação de atletas, para os clubes formadores”.
- É só sendo ex-atleta para enxergar. Tem muito paraquedista no boxe, gente que nem é da modalidade. O dinheiro vai mais para os burocratas do que para os atores principais – que são os atletas. Precisaria ser aplicado em bolsões, onde está a meninada carente.
Servílio diz que nunca teve seu nome ligado a um troféu, um torneio, como homenagem.
- E ser medalhista olímpico não é tarefa fácil. É uma conquista muito importante. Tanto que são 44 anos desde a Olimpíada de 1968.
“Todo menino queria ser um Éder”
O boxe faz parte da vida de Servílio desde que o garoto do bairro do Ipiranga tinha 12 anos de idade e começou a treinar em academia.
- O Éder Jofre foi campeão do mundo em 1960. Vimos no Canal 100, no cinema [documentário semanal de esportes que era levado antes dos filmes]. Na época, todo menino queria ser um Éder Jofre.
Os treinos eram no Caracu Boxe Clube, na rua Aurora, centro de São Paulo, “em cima do cine Scala”. Que acabou fechando. Servílio foi então para a academia Flamingo, na rua Florêncio de Abreu, também no centro paulistano.
A carreira foi rápida: em 1966 já era campeão dos 51 kg no Campeonato de A Gazeta Esportiva. Foi por ganhar o Torneio dos Campeões, em outubro daquele ano, que Servílio foi convidado pelo técnico Antônio Carollo para fazer parte do grupo da Pirelli – que se tornaria uma potência, com equipes muito fortes de vários esportes.
- Cresci muito fisicamente, tecnicamente.
Três medalhas olímpicas em 1968 – uma do boxe
Em 1967, foi aos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg 1967.
- Em março de 1968 foi ao Campeonato Latino-Americano, em Santiago, Chile, e em outubro estava na Olimpíada da Cidade do México. Quando cheguei às semifinais, acho que fiquei meio satisfeito com a missão cumprida. Se não fosse o clima de “vai não vai”, acho que poderia ter sido medalha de ouro.
O bronze olímpico foi “um momento muito importante para o boxe, esporte onde o dinheiro sempre faltou”.
- O boxe é o primo pobre. Mas naquela Olimpíada tivemos três medalhas e uma foi do boxe. A 14ª medalha olímpica de um brasileiro [Nélson Prudêncio foi prata no salto triplo, do atletismo, e Reinaldo Conrad e Burkhard Cordes, bronze na classe Flying Deutchmann, da vela].
Noiva chilena e descolamento de retina
Depois da Olimpíada, conta Servílio, foi que se casou com Victoria e teve os filhos José Luiz, Gabriel – nascidos no Chile -, Luciana, Daniela e Ivan.
- Tinha conhecido o Alfredo Rojas, um pugilista chileno, em Winnipeg 1967. A gente treinava junto e ficamos amigos. Quando fui para o Latino-Americano, em 1968, conheci a sobrinha dele, a Victoria, com quem eu me casaria.
Servílio de Oliveira se tornou profissional em 1969. Na quinta luta já era campeão brasileiro; na nona, campeão sul-americano. Ficou em terceiro lugar no ranking mundial dos moscas, mas teve um descolamento de retina em 3 de dezembro de 1971, em luta no Ibirapuera.
Em 1975, com o golpe no Chile [e a morte do presidente Salvador Allende], Servílio voltou ao Brasil.
- Tive de voltar. Santiago é uma cidade linda, em um dos países mais politizados da América, que quebra o pau quando tem de quebrar, para exigir do governo. O brasileiro precisa reivindicar mais, exigir mais direitos. Mas estamos melhorando – vindo lá de trás, do Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma. O Brasil será um país melhor: o filho do meu neto vai ver.
Em 1976, já no Brasil, Servílio de Oliveira retomou os treinos.
- Voltei ao boxe por teimosia. Fiz cinco lutas e ganhei as cinco. Mas em 1978, no Chile, invocaram o regulamento para não me deixar lutar [o veto ao pugilista com menos de um quarto de visão]. Aí, parei.
Fome de justiça
Servílio, que também tinha de fechar a boca para se manter nos 51 kg (“Todo boxeador tem esse problema – está impregnado! É sempre um sacrifício”), tornou-se então técnico e empresário de boxeadores.
À grandiosidade de uma medalha olímpica não correspondeu o que conseguiu do esporte, mas para Servílio a grandiosidade da conquista em uma Olimpíada é mais importante que em um Mundial, porque “etermiza o seu nome”.
Com o fim da equipe de boxe definido pela prefeitura de São Caetano, além está se dedicando aos estudos.
- Quando não estava na faculdade, toda terça-feira estava no Forja dos Campeões, vendo boxe, no Baby Barione [conjunto esportivo no bairro da Água Branca]. Mas agora não perco um dia de aula. Seis, seis e pouco no máximo, estou saindo de casa. O direito é bonito. O mais necessário dos conhecimentos – e está acima de tudo. Porque, de justiça, todos precisam.

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